quarta-feira, 17 de outubro de 2012

A FALTA DE FÉ QUE ME FAZ...


Em épocas de democratização da comunicação, em que é permitido que todos opinem sobre tudo, desenvolvi um prazer mórbido em ler as manifestações opinativas sobre determinado tópico, texto e manifestação crítica na internet. Essa patologia tem até um modus operandi: primeiro eu degusto o texto e depois meus olhos se dirigem, sem pudor, ao universo de comentários que se situa, geralmente, abaixo dele. É aí que eu meu cérebro emite pro meu corpo uma série de sensações.

Os seres pensantes da web se traduzem em várias categorias. Primeiro, o grupo de apoio que se subdivide em: puxa-sacos (20%), amigos do autor do texto (60%), os sem-opinião-que-preferem-não-contrariar-ninguém (19%) e, por fim, os que realmente entenderam a idéia do texto e o apoiam (1%). Essa turma é pacífica e geralmente utiliza palavras de otimismo e de afeto, rasgando elogios ao autor, à escrita, ao tema, ao mundo e à vida.

Logo depois encontramos o grupo dos comediantes, que trata todo e qualquer assunto com muito bom humor, mesmo quando o texto trata de catástrofe e morte. Esses são subdividos em: piadistas (50%), ironicos (20%), sarcásticos (20%) e trolladores (10%). Os meus preferidos são os irônicos e sarcásticos, que não raro são confundidos com o primeiro grupo e apoiados, mesmo não concordando meio por cento com a idéia central do texto.

O terceiro grupo é a tribo dos críticos. Tem muita gente boa participando dele, como por exemplo os questionadores (30%). Mas também tem muita mala-sem-alça, como os revoltados-sem-causa (40%), os indignados-com-o-mundo (10%) e os do-contra (20%) que são capazes de contrariar as próprias opiniões para contrariar a idéia do texto. Esse grupo é conhecido pelo número de pontos de interrogação utilizados e por contar histórias pseudo-reais envolvendo o assunto desenvolvido com resultado diferente da conclusão sugerida pelo autor.

E por último, o mais perigoso, é o grupo dos xiitas. Eu costumo separar esse grupo em pessoas-que-não-fazem-sexo (30%), semi-analfabetos (50%), descontrolados (10%), bagaceiros e idiotas (9%) e os terroristas (1%) – nessa última categoria, se incluem os criminosos de todo-o-gênero. São conhecidos por usarem a CAPS LOCK com frequência e são seres desprovidos de argumento, recorrendo a palavras de baixo-calão e apelando pra ataques pessoais contra o autor do texto, mesmo quando o autor não é conhecido. Esse grupo, não raro, desconhece a gramática.

E eu, no meio dessa fauna comentarista, fico seriamente impressionada e tenho um certo saudosismo da era da exclusão digital, em que o acesso à informações era escasso e o direito a opinião ficava restrito ao ambiente familiar e não se multiplicava – assim indiscriminadamente – pelas redes sociais, produzindo discussões inúteis e superficiais e muitas vezes disseminando covardemente o ódio que fica escondido atrás de computadores e androids.

Eu sei, esse texto também é uma opinião, mas a humanidade, de boca fechada, me inspirava mais fé.


quinta-feira, 28 de junho de 2012

PARADOXOS



Pode um grito ser silencioso?

[Jon Snow, Guerra dos Tronos - A Fúria dos Reis, de George R. R. Martin]

quarta-feira, 6 de junho de 2012

MULHERES



- Fale sobre as mulheres em seu mundo, capitão.
- O que gostaria de saber?
- Será que a tecnologia as mudou... fazendo delas apenas pessoas ao invés de mulheres?
- Mundos podem mudar. Galáxias se desintegrar. Mas uma mulher... é sempre uma mulher.

[Star Trek TOS, The Conscience of the King]

quarta-feira, 30 de maio de 2012

ANTES QUE O ESQUECIMENTO...

Li uma postagem de um amigo cheio de saudosismo dos veraneios em Nova Tramandaí e, como não poderia deixar de ser, minha mente imediatamente remeteu aos meus inesquecíveis verões na Tramandaí -que não era Nova como a do meu amigo, mas que era igualmente especial -.

Até a minha adolescência, 1/4 do meu ano, ao menos, eu dedicava à praia. Três meses insuficientes. Ainda lembro de passar as manhãs no mar e chegar em casa e ter o almoço preparado pela minha Vó Ivone, ao meio dia em ponto. Sim, em ponto. Sem concessões. Era um almoço sem conversas porque o Vô Antônio não curtia balbúrdias à mesa. Certamente estão no topo das pessoas que eu mais sinto saudade.

Também lembro das caminhadas na beira da praia com meu pai. Lembro que nós caminhávamos até a fronteira com Imbé, nas pedras, catávamos conchinhas (sacos e sacos de conchinhas) e depois, orgulhosos, mostrávamos pra mãe. Lembro que encontramos uma vez uma estrela do mar. Não lembro se no trajeto conversávamos ou ficávamos em silêncio procurando conchas, estrelas do mar ou caramujos no chão. Lembro só que era um momento especial.

Eu lembro da rede na frente da casa. E dos amigos da mesma rua, que eu só recordo o primeiro nome: a Cristina, de Igrejinha; a Paula e a Janaína, de Passo Fundo; o Diego, também de Passo Fundo e os "donos da azaléia", cujo nome simplesmente eu não lembro, [nem deviam ser donos, porque quando a gente é criança tudo é muito maior do que realmente é]. Também lembro do Chico. Que deu origem ao meu primeiro cacho. Um cacho chamado Chico. Desconfio que foi nessa época que comecei a ficar crespa.

E não tem como não lembrar dos momentos com a minha prima Taci, das vezes que sentávamos na esquina pra ver o movimento (cof, cof!) , quando esperávamos os nossos primos e primas (a Má e Pati) chegarem das festas, do Planeta Atlântida, das baladas que, na época, nós somente sonhavamos em ir. Entre picolés, andanças de roller pela calçada e muito crepe, nos éramos plenamente felizes!

Como não lembrar da Dilena nessa época? Aquela amiga de infância inseparável que a gente não desgruda nem pra ir a praia. Aquela que está do seu lado comendo pão cacetinho e batata palha com maionese em plena manhã de verão, em Tramandaí. E a Polentina? Pobrezinha. Tinha também o Luizinho, o guri responsável pelas minhas piadas preferidas (sim, lá em casa todo mundo é gordinho, foi ele que me ensinou) e por mostrar, lá no céu de Tramandaí mesmo, a constelação que parece um cara atirando uma flecha (que eu mostro pra todo mundo e só 10% dos meus amigos vê).

Acho que dá pra dizer que os meus veraneios definiram um pouco do que eu me tornei hoje. E esse texto é pra nunca me esquecer disso, antes que o esquecimento, como canta o Chico Buarque, "lance seu manto, seu manto cinzento".

Saudade é pouco.

quarta-feira, 16 de maio de 2012

ESCOLHAS INTELIGENTES


Se quiseres crescer como pessoa, cerca-te de gente mais inteligente do que tu’. Faz muitos anos que li essa frase, num desses e-mails que atribuem a Shakespeare (coisa que duvido, menos por conhecimento que por intuição). Ignorando a autoria ou desconfiando dela, o fato é que guardei o conteúdo, processei no meu HD interno e apliquei. Tive a sorte de ter sido gerada e criada por pais inteligentes, daqueles que dizem: ‘não consegue dormir, vai ler um livro que o sono vem’. Eu deitava. E lia.

Depois, quando a maturidade me deu o discernimento e o poder da escolha, comecei a escolher meus amigos por essa lógica. Uma lógica que parece fácil, mas não é. Estar rodeado de pessoas mais inteligentes é um constante desafio, um exercício permanente de humildade. Um pódio, em que você sempre ocupará o segundo lugar. O degrau mais baixo. O vice-campeonato. Os holofotes passando e se fixando na figura ao lado. Amargo?

Surpreendentemente não. Conheço pessoas que não sentiriam prazer algum nisso. Que se sentiriam acuadas, ameaçadas. Que chamariam adversários as pessoas que eu, com a minha lógica, chamo de amigos. Hoje tenho amigos que conhecem profundamente a literatura. Outros, a música. Muitos, as ciências jurídicas. Alguns, a filosofia. Poucos [mas valiosos] a psicologia. Convivi, por um bom tempo, com alguém que entendia sensivelmente de arte. Todos possuem uma coisa em comum: tem um conhecimento de tudo isso maior do que [talvez] um dia eu terei. Infinitamente maior.

Não me intimido. Nem finjo que sei. [seria em vão, porque a inteligência, via de regra, vem acompanhada da perspicácia]. Eu os ouço. E aprendo. Mentalmente vou anotando tudo que minha limitada capacidade sináptica consegue absorver. E do meu segundo lugar, admiro afetuosamente meus amigos, meus parceiros, minhas escolhas. E vou me tornando uma pessoa melhor, como na frase. Todos os dias, tenho a sensação de que a menina de 1m56 vai ficando pra trás. E crescendo, aos poucos, a gente percebe: nada pode ser mais doce que recolher-se à nossa insignificância.

Recomendo.

domingo, 8 de abril de 2012

SOBRE PENDÊNCIAS E INSÔNIAS


Não sei se a insônia é responsável por despertar histórias mal resolvidas ou se acontece o contrário. Talvez sejam elas – as histórias pendentes de resolução – que despertem a insônia. É o que acontece quando se acorda às 4 horas da manhã de um domingo semi-frio e o teto parece criar diálogos internos intermináveis na ânsia de resolver problemas que nunca (ou não tão cedo) serão resolvidos. Soa um tanto esquizofrênico, eu sei. Mas acontece.

Você pensa. E se questiona. Anda por todos os caminhos imaginários que você acha que poderia ter percorrido. Chega a resultados diferentes. Mais felizes. Muito mais prósperos. Você se culpa. Sim, porque é preciso culpar alguém. E você percebe que seu único ato de coragem foi colocar a culpa em si mesmo. E o teto balança a cabeça, em sinal negativo, querendo te apoiar. “Você foi corajosa”, ele parece dizer. Você está delirando, sem dúvida.

Você fecha os olhos. Mais diálogos. Começa a ficar cômico. Você ri. O tempo te ensinou a rir de si mesma. E você começa a sentir. Você quase começa a ouvir vozes (se fosse possível lembra-las, você ouviria). E você se acalma. Seus olhos captam uma luz. Melhor não seguir a luz, você pensa. Abre os olhos sorrateiramente. É saudado pela luz do dia.

Os diálogos são esquecidos. Os sentimentos são sublimados. Os efeitos colaterais da insônia são afogados pelo café. Você trabalha. Você vive. Não ouve mais vozes. Tudo está sob controle. Na mais perfeita ordem. Menos as histórias pendentes. Essas continuarão mal resolvidas. Ao menos até a próxima noite de insônia...

sexta-feira, 2 de março de 2012

ANGÚSTIAS DE SOFIA

- Tudo errado. Tá tudo errado..
- O que está errado Sofia?
- A vida. Nada aconteceu do jeito que eu imaginei. Quero morrer!
- Shhhh! Não seja covarde!
- Morrer seria tão mais simples.
- Não fale besteira Sofia!
- É isso. Preciso encontrar um método silencioso e indolor.
- De morrer?
- Não! De mudar...

domingo, 12 de fevereiro de 2012

PAZ



Nós corremos antes do vento.
Pensamos que seremos carregados pra sempre.
Não seremos.
Desaparecemos como uma nuvem.
Murchamos como a erva do outono.
E como a árvore estamos enraizados.
Há uma falácia no universo?
Não há nada que seja imortal?
Nada que não morra?
Não podemos ficar no lugar.
Nós devemos continuar nossa jornada.
Temos de encontrar aquilo.. algo que seja mais do que a riqueza. O destino.
Nada pode nos trazer a paz, senão ela mesma.


[Do filme A Árvore da Vida, de Terrence Malick]

SOBRE O INDISPENSÁVEL




A única forma de ser feliz é amando.
Se você não ama, a vida passa como um flash diante dos seus olhos.

[ Do filme A Árvore da Vida, de Terrence Malick]

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

AMBIÇÃO


O psicoterapeuta Flávio Gikovate fez uma reflexão sobre as consequências da ambição desmedida, relacionando-a aos níveis de ressentimento guardados pelo ser humano. Quanto mais ressentimento, mais ambição e mais longe estará o alcance da (tão almejada) serenidade. É necessário, portanto, uma ambição comedida.

A idéia é boa. E não é nova. Aliás, o argumento é quase óbvio, digno de uma crônica ululante, dessas que se proliferam em pepê-ésses sentimentalóides e livros de auto ajuda. Apesar disso, é uma reflexão recorrente, tão difícil de colocar em prática quanto à dieta do líquido no meio de um inverno de zero graus.

É que a ambição está para a alma, como a energia está para o corpo. A falta de ambição – a desmedida mesmo – provoca uma das piores ruínas do ser humano: o comodismo. Em contraponto, o excesso de ambição também pode ser desastroso e destruir ad eternum ideais de paz e tranquilidade, até porque um dos efeitos colaterais do vírus ambição se chama frustração.

Certa vez, numa dessas conversas de terapia, um outro psicoterapeuta tão bom (ou melhor) quanto o Flávio Gikovate, me disse que a ambição só funciona quando buscamos objetivos alcançáveis. Esses objetivos sim, no seu âmago, poderiam conter uma ambição desmedida. A encrenca ficaria a cargo da busca por objetivos utópicos alimentados por ilusões mais utópicas ainda.

Confesso que na hora eu não concordei. Por que eu não poderia almejar – se assim eu quisesse – ser a Angelia Jolie e buscar esse objetivo com toda a força desmedida do meu ser? Fez-se silêncio antes da resposta que me convenceu do argumento.

Sucesso, tudo bem... mas Angelia Jolie, ah não, isso era utopia demais.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

MÁGOAS





Se os olhos são a janela da alma
Então a mágoa é a porta
Enquanto estiver fechada é a barreira entre o saber e o não saber
Fuja e ela continuará fechada para sempre
Abra e a atravesse
E a dor se tornará verdadeira

(Dexter. 2º Episódio/ 2ª Temporada)

EMOÇÕES




Irregular
Como um gráfico
Como as emoções
Como a vida, afinal.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

JULGAMENTO




- Desonesto é aquele que diz ADEUS quando a estrada escurece - disse Gimli.
- Talvez - disse Elrond - mas não jure que caminhará no escuro aquele que não viu o cair da noite.


[Senhor dos Anéis, A Sociedade do Anel]

sábado, 28 de janeiro de 2012

TRANSFORMAÇÃO



Como se retoma o curso de uma antiga vida? Como se segue em frente quando, no íntimo, começa-se a entender que não há volta?
Há certas coisas que o tempo não pode curar.
Algumas feridas são tão profundas que nos acompanham pra sempre.


[Senhor Dos Anéis, O Retorno do Rei]