quarta-feira, 16 de maio de 2012

ESCOLHAS INTELIGENTES


Se quiseres crescer como pessoa, cerca-te de gente mais inteligente do que tu’. Faz muitos anos que li essa frase, num desses e-mails que atribuem a Shakespeare (coisa que duvido, menos por conhecimento que por intuição). Ignorando a autoria ou desconfiando dela, o fato é que guardei o conteúdo, processei no meu HD interno e apliquei. Tive a sorte de ter sido gerada e criada por pais inteligentes, daqueles que dizem: ‘não consegue dormir, vai ler um livro que o sono vem’. Eu deitava. E lia.

Depois, quando a maturidade me deu o discernimento e o poder da escolha, comecei a escolher meus amigos por essa lógica. Uma lógica que parece fácil, mas não é. Estar rodeado de pessoas mais inteligentes é um constante desafio, um exercício permanente de humildade. Um pódio, em que você sempre ocupará o segundo lugar. O degrau mais baixo. O vice-campeonato. Os holofotes passando e se fixando na figura ao lado. Amargo?

Surpreendentemente não. Conheço pessoas que não sentiriam prazer algum nisso. Que se sentiriam acuadas, ameaçadas. Que chamariam adversários as pessoas que eu, com a minha lógica, chamo de amigos. Hoje tenho amigos que conhecem profundamente a literatura. Outros, a música. Muitos, as ciências jurídicas. Alguns, a filosofia. Poucos [mas valiosos] a psicologia. Convivi, por um bom tempo, com alguém que entendia sensivelmente de arte. Todos possuem uma coisa em comum: tem um conhecimento de tudo isso maior do que [talvez] um dia eu terei. Infinitamente maior.

Não me intimido. Nem finjo que sei. [seria em vão, porque a inteligência, via de regra, vem acompanhada da perspicácia]. Eu os ouço. E aprendo. Mentalmente vou anotando tudo que minha limitada capacidade sináptica consegue absorver. E do meu segundo lugar, admiro afetuosamente meus amigos, meus parceiros, minhas escolhas. E vou me tornando uma pessoa melhor, como na frase. Todos os dias, tenho a sensação de que a menina de 1m56 vai ficando pra trás. E crescendo, aos poucos, a gente percebe: nada pode ser mais doce que recolher-se à nossa insignificância.

Recomendo.

2 comentários:

  1. Arrepiei! Que texto magnífico! E como é difícil e ao mesmo tempo honroso o reconhecimento de nossas limitações!

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  2. Me identifiquei bastante com esse texto. Também sempre tento conviver com pessoas mais inteligentes, no meu modo de ver, e assim ouvir e absover o que elas têm a dizer.
    Ótimo texto Débora.
    Bjos, Elisa.

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