‘Se quiseres crescer
como pessoa, cerca-te de gente mais inteligente do que tu’. Faz muitos anos
que li essa frase, num desses e-mails que atribuem a Shakespeare (coisa que duvido,
menos por conhecimento que por intuição). Ignorando a autoria ou desconfiando
dela, o fato é que guardei o conteúdo, processei no meu HD interno e apliquei.
Tive a sorte de ter sido gerada e criada por pais inteligentes, daqueles que dizem:
‘não consegue dormir, vai ler um livro
que o sono vem’. Eu deitava. E lia.
Depois, quando a maturidade me deu o discernimento e o poder
da escolha, comecei a escolher meus amigos por essa lógica. Uma lógica que
parece fácil, mas não é. Estar rodeado de pessoas mais inteligentes é um
constante desafio, um exercício permanente de humildade. Um pódio, em que você sempre
ocupará o segundo lugar. O degrau mais baixo. O vice-campeonato. Os holofotes passando
e se fixando na figura ao lado. Amargo?
Surpreendentemente não. Conheço pessoas que não sentiriam prazer
algum nisso. Que se sentiriam acuadas, ameaçadas. Que chamariam adversários as pessoas
que eu, com a minha lógica, chamo de amigos. Hoje tenho amigos que conhecem profundamente
a literatura. Outros, a música. Muitos, as ciências jurídicas. Alguns, a filosofia.
Poucos [mas valiosos] a psicologia. Convivi, por um bom tempo, com alguém que
entendia sensivelmente de arte. Todos possuem uma coisa em comum: tem um
conhecimento de tudo isso maior do que [talvez] um dia eu terei. Infinitamente
maior.
Não me intimido. Nem finjo que sei. [seria em vão, porque a
inteligência, via de regra, vem acompanhada da perspicácia]. Eu os ouço. E
aprendo. Mentalmente vou anotando tudo que minha limitada capacidade sináptica consegue
absorver. E do meu segundo lugar, admiro afetuosamente meus amigos, meus parceiros,
minhas escolhas. E vou me tornando uma pessoa melhor, como na frase. Todos os
dias, tenho a sensação de que a menina de 1m56 vai ficando pra trás. E crescendo, aos poucos, a gente percebe: nada pode
ser mais doce que recolher-se à nossa insignificância.
Recomendo.
Arrepiei! Que texto magnífico! E como é difícil e ao mesmo tempo honroso o reconhecimento de nossas limitações!
ResponderExcluirMe identifiquei bastante com esse texto. Também sempre tento conviver com pessoas mais inteligentes, no meu modo de ver, e assim ouvir e absover o que elas têm a dizer.
ResponderExcluirÓtimo texto Débora.
Bjos, Elisa.