quarta-feira, 30 de maio de 2012

ANTES QUE O ESQUECIMENTO...

Li uma postagem de um amigo cheio de saudosismo dos veraneios em Nova Tramandaí e, como não poderia deixar de ser, minha mente imediatamente remeteu aos meus inesquecíveis verões na Tramandaí -que não era Nova como a do meu amigo, mas que era igualmente especial -.

Até a minha adolescência, 1/4 do meu ano, ao menos, eu dedicava à praia. Três meses insuficientes. Ainda lembro de passar as manhãs no mar e chegar em casa e ter o almoço preparado pela minha Vó Ivone, ao meio dia em ponto. Sim, em ponto. Sem concessões. Era um almoço sem conversas porque o Vô Antônio não curtia balbúrdias à mesa. Certamente estão no topo das pessoas que eu mais sinto saudade.

Também lembro das caminhadas na beira da praia com meu pai. Lembro que nós caminhávamos até a fronteira com Imbé, nas pedras, catávamos conchinhas (sacos e sacos de conchinhas) e depois, orgulhosos, mostrávamos pra mãe. Lembro que encontramos uma vez uma estrela do mar. Não lembro se no trajeto conversávamos ou ficávamos em silêncio procurando conchas, estrelas do mar ou caramujos no chão. Lembro só que era um momento especial.

Eu lembro da rede na frente da casa. E dos amigos da mesma rua, que eu só recordo o primeiro nome: a Cristina, de Igrejinha; a Paula e a Janaína, de Passo Fundo; o Diego, também de Passo Fundo e os "donos da azaléia", cujo nome simplesmente eu não lembro, [nem deviam ser donos, porque quando a gente é criança tudo é muito maior do que realmente é]. Também lembro do Chico. Que deu origem ao meu primeiro cacho. Um cacho chamado Chico. Desconfio que foi nessa época que comecei a ficar crespa.

E não tem como não lembrar dos momentos com a minha prima Taci, das vezes que sentávamos na esquina pra ver o movimento (cof, cof!) , quando esperávamos os nossos primos e primas (a Má e Pati) chegarem das festas, do Planeta Atlântida, das baladas que, na época, nós somente sonhavamos em ir. Entre picolés, andanças de roller pela calçada e muito crepe, nos éramos plenamente felizes!

Como não lembrar da Dilena nessa época? Aquela amiga de infância inseparável que a gente não desgruda nem pra ir a praia. Aquela que está do seu lado comendo pão cacetinho e batata palha com maionese em plena manhã de verão, em Tramandaí. E a Polentina? Pobrezinha. Tinha também o Luizinho, o guri responsável pelas minhas piadas preferidas (sim, lá em casa todo mundo é gordinho, foi ele que me ensinou) e por mostrar, lá no céu de Tramandaí mesmo, a constelação que parece um cara atirando uma flecha (que eu mostro pra todo mundo e só 10% dos meus amigos vê).

Acho que dá pra dizer que os meus veraneios definiram um pouco do que eu me tornei hoje. E esse texto é pra nunca me esquecer disso, antes que o esquecimento, como canta o Chico Buarque, "lance seu manto, seu manto cinzento".

Saudade é pouco.

quarta-feira, 16 de maio de 2012

ESCOLHAS INTELIGENTES


Se quiseres crescer como pessoa, cerca-te de gente mais inteligente do que tu’. Faz muitos anos que li essa frase, num desses e-mails que atribuem a Shakespeare (coisa que duvido, menos por conhecimento que por intuição). Ignorando a autoria ou desconfiando dela, o fato é que guardei o conteúdo, processei no meu HD interno e apliquei. Tive a sorte de ter sido gerada e criada por pais inteligentes, daqueles que dizem: ‘não consegue dormir, vai ler um livro que o sono vem’. Eu deitava. E lia.

Depois, quando a maturidade me deu o discernimento e o poder da escolha, comecei a escolher meus amigos por essa lógica. Uma lógica que parece fácil, mas não é. Estar rodeado de pessoas mais inteligentes é um constante desafio, um exercício permanente de humildade. Um pódio, em que você sempre ocupará o segundo lugar. O degrau mais baixo. O vice-campeonato. Os holofotes passando e se fixando na figura ao lado. Amargo?

Surpreendentemente não. Conheço pessoas que não sentiriam prazer algum nisso. Que se sentiriam acuadas, ameaçadas. Que chamariam adversários as pessoas que eu, com a minha lógica, chamo de amigos. Hoje tenho amigos que conhecem profundamente a literatura. Outros, a música. Muitos, as ciências jurídicas. Alguns, a filosofia. Poucos [mas valiosos] a psicologia. Convivi, por um bom tempo, com alguém que entendia sensivelmente de arte. Todos possuem uma coisa em comum: tem um conhecimento de tudo isso maior do que [talvez] um dia eu terei. Infinitamente maior.

Não me intimido. Nem finjo que sei. [seria em vão, porque a inteligência, via de regra, vem acompanhada da perspicácia]. Eu os ouço. E aprendo. Mentalmente vou anotando tudo que minha limitada capacidade sináptica consegue absorver. E do meu segundo lugar, admiro afetuosamente meus amigos, meus parceiros, minhas escolhas. E vou me tornando uma pessoa melhor, como na frase. Todos os dias, tenho a sensação de que a menina de 1m56 vai ficando pra trás. E crescendo, aos poucos, a gente percebe: nada pode ser mais doce que recolher-se à nossa insignificância.

Recomendo.