segunda-feira, 28 de março de 2011

EVOLUÇÃO DA ESPÉCIE


- Desde que o mundo é mundo, a dor é o único instrumento de evolução e crescimento.
- Mas, pai, tinha um menino no Paquistão que nunca sentia dor. Então quer dizer que ele ia ser criança para sempre?
- Não Sofia. Eu falo da dor em seu aspecto subjetivo. E, depois, o que esse menino tinha era uma doença rara que só se manifesta quando a pessoa herda dois genes defeituosos: um do pai e um da mãe.
- Ah, entendi. Os pais do menino não queriam que ele crescesse.
- Não filha, não! Isso de passar os genes é involuntário.
- Involuntário significa que os pais queriam que ele sentisse dor?
- Não Sofia, não! Nenhum pai quer que o filho sinta dor!
- Mas eu aprendi na escola que, em Esparta, os pais espacavam seus filhos pra que eles se tornassem mais fortes. Isso é involuntário?
- Não filha, isso é o contrário de involuntário. De qualquer forma, era outra época!
- Hmm. Hoje então os pais preferem que os filhos não cresçam?
- Não! Os pais querem que os filhos evoluam, mas não querem que eles sintam dor!
- Mas a dor não era o único instrumento de crescimento?

quarta-feira, 23 de março de 2011

SEMMERING




Entre Áustria e Itália, há uma região dos Alpes chamada Semmering.
É uma área muito alta, na montanha, e muito íngreme.
Eles construíram um trilho de trem ligando Viena a Veneza.
Eles construíram o trilho antes de existir um trem para percorrê-lo.
Eles construíram porque sabiam que um dia o trem viria.


[Do filme Sob o Sol de Toscana, de Audrey Wells]

DEDO



'Quando o dedo aponta o céu, o imbecil olha o dedo'

 [O Fabuloso Destino de Amelie Poulain]

ATOS QUE DESAFIAM A MORTE



Quando eu era bem pequena eu tinha um dom. Eu via coisas que outras pessoas não viam. Era como olhar em águas profundas e ver coisas do outro lado. Quando eu cresci o dom se foi, como minha mãe havia previsto. E eu vi o mundo como realmente era, com todas as suas doces mentiras e artimanhas.

[Trecho do filme Atos Que Desafiam a Morte, sobre a vida do ilusionista Harry Houdini)

AMPULHETA DO TEMPO




- E se alguém lhe dissesse que essa vida da forma como você a vive e viveu no passado, você teria que vivê-la de novo, porém inúmeras vezes mais. Não haverá nada de novo nela. Cada dor, cada alegria, cada coisa minúscula ou grandiosa retornaria pra você, a mesma sucessão, a mesma sequência, várias vezes, como uma ampulheta do tempo. Imagine o infinito. Considere a possibilidade de que cada ato que escolher, escolherá para sempre. Então toda a vida não vivida permanecerá dentro de você. Não vivida por toda a eternidade.
- Gosta desta idéia?
- Eu detesto.

[Trecho do filme Quando Nietsche Chorou, adaptação do livro de Irvin D.Yalom]

segunda-feira, 21 de março de 2011

O MAL DO SÉCULO


Ah, a insatisfação típica do homem. Nunca está perfeito e por que será? É a tendência inexorável do ser humano, negativar tudo que a vida oferece de positivo. O impulso natural de querer sempre mais e melhor, uma das grandes qualidades humanas, se converte em um descontentamento generalizado. E tudo isso, em grande escala, gera a epidemia da infelicidade.
Ninguém escapa. O contágio se dá pelo ar e não poderia ser diferente, estamos falando de energia, essa força incontrolável que se propaga através das nossas palavras, ações e pensamentos desde a hora que acordamos, até a hora do tão esperado sono. Não raro, ao longo do dia, os obstáculos ganham volume e as insatisfações conquistam o papel principal nessa peça chamada vida. 
Mas, nem tudo está perdido. Há quem consiga canalizar a energia e se tornar imune ao vírus. Os jedis então ganham aliados fortíssimos que nem mesmo os sith são capazes de arrastar pro lado sombrio da força. E, pasmem, essas raras pessoas são facilmente identificáveis no cotidiano: elas elogiam muito, não julgam a vida alheia e ressaltam o lado positivo de todas as experiências, isso sem qualquer sinal de arrogância ou pretensão. Descobriram a cura da doença? Parece que sim.
Infelizmente, o antídoto não pode ser vendido na farmácia clandestina ali nos fundos da casa do vizinho. Ele só pode ser produzido por nós. Não há fórmulas certas e nem segredos ocultos a serem desvendados. A cura pode ser facilmente alcançada, basta que as pessoas enxerguem a vida pela perspectiva da sensibilidade e da emoção. Ouso discordar do nosso poeta Renato Russo, o mal do século não é a solidão, mas a eterna insatisfação.

MADAME BOVARY





Gostava do mar apenas pelas suas tempestades e da verdura só quando a encontrava espalhada entre ruínas. Tinha necessidade de tirar de tudo uma espécie de benefício pessoal e rejeitava como inútil o que quer que não contribuísse para a satisfação imediata de um desejo do seu coração - tendo um temperamento mais sentimental do que artístico e interessando-se mais por emoções do que por paisagens.

[Trecho do filme Madame Bovary, adaptação do livro de Gustave Flaubert]

MATURIDADE


Engana-se pensando que é você.
Você é um escultor Rodin, não uma escultura. Devia saber.
A moça que perdeu a juventude sou eu também. E o homem.
Ele me deu o vazio em troca.
Sim, três vezes eu.
A Santíssima Trindade.
A trindade do vazio.

[Trecho do filme Camille Claudel, sobre a obra Maturidade]