Em épocas
de democratização da comunicação, em que é permitido que todos
opinem sobre tudo, desenvolvi um prazer mórbido em ler as
manifestações opinativas sobre determinado tópico, texto e
manifestação crítica na internet. Essa patologia tem até um modus
operandi: primeiro eu degusto o texto e depois meus olhos se
dirigem, sem pudor, ao universo de comentários que se situa,
geralmente, abaixo dele. É aí que eu meu cérebro emite pro meu
corpo uma série de sensações.
Os seres pensantes da web se traduzem em várias categorias. Primeiro, o grupo de apoio que se subdivide em: puxa-sacos (20%), amigos do autor do texto (60%), os sem-opinião-que-preferem-não-contrariar-ninguém (19%) e, por fim, os que realmente entenderam a idéia do texto e o apoiam (1%). Essa turma é pacífica e geralmente utiliza palavras de otimismo e de afeto, rasgando elogios ao autor, à escrita, ao tema, ao mundo e à vida.
Os seres pensantes da web se traduzem em várias categorias. Primeiro, o grupo de apoio que se subdivide em: puxa-sacos (20%), amigos do autor do texto (60%), os sem-opinião-que-preferem-não-contrariar-ninguém (19%) e, por fim, os que realmente entenderam a idéia do texto e o apoiam (1%). Essa turma é pacífica e geralmente utiliza palavras de otimismo e de afeto, rasgando elogios ao autor, à escrita, ao tema, ao mundo e à vida.
Logo
depois encontramos o grupo dos comediantes, que trata todo e qualquer
assunto com muito bom humor, mesmo quando o texto trata de catástrofe
e morte. Esses são subdividos em: piadistas (50%), ironicos (20%),
sarcásticos (20%) e trolladores (10%). Os meus preferidos são os
irônicos e sarcásticos, que não raro são confundidos com o
primeiro grupo e apoiados, mesmo não concordando meio por cento com
a idéia central do texto.
O
terceiro grupo é a tribo dos críticos. Tem muita gente boa
participando dele, como por exemplo os questionadores (30%). Mas
também tem muita mala-sem-alça, como os revoltados-sem-causa (40%),
os indignados-com-o-mundo (10%) e os do-contra (20%) que são capazes
de contrariar as próprias opiniões para contrariar a idéia do
texto. Esse grupo é conhecido pelo número de pontos de interrogação
utilizados e por contar histórias pseudo-reais envolvendo o assunto
desenvolvido com resultado diferente da conclusão sugerida pelo
autor.
E por
último, o mais perigoso, é o grupo dos xiitas. Eu costumo separar
esse grupo em pessoas-que-não-fazem-sexo (30%), semi-analfabetos
(50%), descontrolados (10%), bagaceiros e idiotas (9%) e os
terroristas (1%) – nessa última categoria, se incluem os
criminosos de todo-o-gênero. São conhecidos por usarem a CAPS LOCK
com frequência e são seres desprovidos de argumento, recorrendo a palavras de baixo-calão e apelando pra ataques pessoais contra o
autor do texto, mesmo quando o autor não é conhecido. Esse grupo,
não raro, desconhece a gramática.
E eu, no
meio dessa fauna comentarista, fico seriamente impressionada e tenho
um certo saudosismo da era da exclusão digital, em que o acesso à
informações era escasso e o direito a opinião ficava restrito ao
ambiente familiar e não se multiplicava – assim indiscriminadamente
– pelas redes sociais, produzindo discussões inúteis e
superficiais e muitas vezes disseminando covardemente o ódio que
fica escondido atrás de computadores e androids.
Eu sei,
esse texto também é uma opinião, mas a humanidade, de boca fechada, me inspirava
mais fé.