Não sei se a insônia é responsável por despertar histórias
mal resolvidas ou se acontece o contrário. Talvez sejam elas – as histórias
pendentes de resolução – que despertem a insônia. É o que acontece quando se
acorda às 4 horas da manhã de um domingo semi-frio e o teto parece criar diálogos
internos intermináveis na ânsia de resolver problemas que nunca (ou não tão
cedo) serão resolvidos. Soa um tanto esquizofrênico, eu sei. Mas acontece.
Você pensa. E se questiona. Anda por todos os caminhos
imaginários que você acha que poderia ter percorrido. Chega a resultados diferentes.
Mais felizes. Muito mais prósperos. Você se culpa. Sim, porque é preciso culpar
alguém. E você percebe que seu único ato de coragem foi colocar a culpa em si
mesmo. E o teto balança a cabeça, em sinal negativo, querendo te apoiar. “Você
foi corajosa”, ele parece dizer. Você está delirando, sem dúvida.
Você fecha os olhos. Mais diálogos. Começa a ficar cômico.
Você ri. O tempo te ensinou a rir de si mesma. E você começa a sentir. Você
quase começa a ouvir vozes (se fosse possível lembra-las, você ouviria). E você
se acalma. Seus olhos captam uma luz. Melhor não seguir a luz, você pensa. Abre
os olhos sorrateiramente. É saudado pela luz do dia.
Os diálogos são esquecidos. Os sentimentos são sublimados.
Os efeitos colaterais da insônia são afogados pelo café. Você trabalha. Você
vive. Não ouve mais vozes. Tudo está sob controle. Na mais perfeita ordem.
Menos as histórias pendentes. Essas continuarão mal resolvidas. Ao menos até a
próxima noite de insônia...