quarta-feira, 19 de outubro de 2011

TUDO PASSA?


Tudo passa. Se existisse um óscar de clichês, certamente “tudo passa” estaria entre os indicados. Em todas as línguas, todas as culturas, ninguém duvida que tudo passe. Tout passe, na França. Na Itália, tutto passa. De país em país, de mãe pra filho, de irmão pra irmão, tudo passa é uma verdade inquestionável. Mas será mesmo que tudo passa?

Eu diria que não. Contrariando gerações inteiras, eu diria: Não. Nada passa. Tudo fica. Fica e se transforma. As dores, as mágoas, o ódio, o amor, a alegria, as perdas, as chegadas, as partidas. Tudo permanece. Os sentimentos, as impressões e as experiências afetivas, uma vez que tenham invadido espaço, ficam no exato lugar em que originalmente estavam. Ficam, mas não são estáticos. Tímidos que são, aguardam – ilhados – o momento da metamorfose e da grande mudança.

Até que um dia tudo se transforma. O tombo de bicicleta passa a ser uma lição. A dor da perda passa a ser uma saudade. O amor passa a ser só afeto. E o ciclo se encerra. Mas os sentimentos permanecem: não passam, nunca passaram e nunca vão passar. É um engano esperar que isso aconteça. É uma ingenuidade aguardar que o nosso imenso potencial afetivo desperdice o tudo, deixando-o passar, assim, impune, sem aprisioná-lo.

Não alimentem essa ilusão.

Nada passa.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

MODERNA SOLIDÃO





É como uma sala vazia, só que não tem paredes. É como sentir falta de vozes que nunca emitiram sons [só letras]. É a ausência de risadas que não são ouvidas, mas vistas, imaginadas e personificadas através do olhar. É o abandono dos cinco sentidos. É o meu abandono, aqui, nesse ambiente virtual. Eu e as fotografias de sorrisos estagnados no tempo, me olhando como se dissessem: "Teclar é em vão. Você está só".

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

ORAÇÃO




Meu Senhor,

O Senhor sabe que não procurei por Deus nas escrituras como Santo Agostinho.
Nem o encontrei no caminho para Damasco, como São Paulo.
Um dia gritei seu nome como qualquer pecador devastado pela dor.
Ele me pediu pra lutar por ele e amar os outros como a mim mesmo.
Desde então, em cada continente, em todas as latitudes, eu lutei. 
Lutei e lutei. Mas agora não sei mais pra quem estou lutando.
Não sei mais como amar.
Deve me ajudar, meu Senhor.


[Pacto de Silêncio, com Gérard Depardieu]