Tudo passa. Se existisse um óscar de clichês, certamente “tudo passa” estaria entre os indicados. Em todas as línguas, todas as culturas, ninguém duvida que tudo passe. Tout passe, na França. Na Itália, tutto passa. De país em país, de mãe pra filho, de irmão pra irmão, tudo passa é uma verdade inquestionável. Mas será mesmo que tudo passa?
Eu diria que não. Contrariando gerações inteiras, eu diria: Não. Nada passa. Tudo fica. Fica e se transforma. As dores, as mágoas, o ódio, o amor, a alegria, as perdas, as chegadas, as partidas. Tudo permanece. Os sentimentos, as impressões e as experiências afetivas, uma vez que tenham invadido espaço, ficam no exato lugar em que originalmente estavam. Ficam, mas não são estáticos. Tímidos que são, aguardam – ilhados – o momento da metamorfose e da grande mudança.
Até que um dia tudo se transforma. O tombo de bicicleta passa a ser uma lição. A dor da perda passa a ser uma saudade. O amor passa a ser só afeto. E o ciclo se encerra. Mas os sentimentos permanecem: não passam, nunca passaram e nunca vão passar. É um engano esperar que isso aconteça. É uma ingenuidade aguardar que o nosso imenso potencial afetivo desperdice o tudo, deixando-o passar, assim, impune, sem aprisioná-lo.
Não alimentem essa ilusão.
Nada passa.