"Não se pode ter tudo!” – dizia a mãe de Sofia desde que ela completara três anos de idade. “Sorvete ou chocolate?”, impunha a mãe. Sofia não entendia. Imaginava-se freneticamente mergulhando o chocolate em um enorme pote de sorvete sabor... “Hm, creme!”. Sofia apreciava o sabor aveludado do sorvete de creme e acreditava que a combinação sorvete/chocolate ficava muito mais saborosa, menos adocicada, diante de um sorvete de creme. Mas que sentido fazia saborear um sorvete de creme sem chocolate? Que sentido fazia a vida se Sofia não podia ter tudo? Teria sempre que escolher entre uma coisa ou outra quando, na verdade, eram as duas coisas que lhe satisfaziam?
Nesse conflito formou-se a personalidade de Sofia. E ao completar cinco anos, Sofia reprimia todo e qualquer tipo de desejo. “Se não podia ter tudo, então não queria ter nada”. A influência da experiência infantil sobre a personalidade adulta tomou proporções inimagináveis. Na fase adulta, ficou mais evidente, muito mais acentuado. Sofia não tomava sorvete. Não caminhava na praia. Não tinha amigos. Não saía de dentro do quarto. Era doloroso ter que escolher entre dormir e ficar acordada. Sofia ficava cada dia mais e mais triste.
Um dia, em seus muitos momentos de apenas sobreviver, Sofia conheceu César Augusto. Sofia ficou espantada, perplexa. Pensava “Como alguém pode ser César e ser Augusto ao mesmo tempo?" E tudo começou a fazer sentido. César Augusto nascera para satisfazer Sofia. Sofia podia ter César e ter Augusto. Finalmente não precisava escolher. Era a suprema felicidade. E daquele dia em diante nunca mais Sofia chorou. Tinha encontrado o sentido da vida.