"- Por que você lê?
- É meu trabalho.
- É engraçado. De repente não sei o que dizer. Isso acontece muito comigo. Eu sei o que quero dizer, eu reflito sobre o que quero dizer, mas no momento de dizer eu não consigo.
- Você leu Os Três Mosqueteiros?
- Não. Por que?
- Porque nele Porthos, o grande, o forte, um pouco besta, ele nunca pensou em sua vida, compreende? Então, uma vez ele tem de implantar uma bomba numa adega para explodi-la. Ele o faz. Ele coloca a bomba, acende e sai correndo naturalmente. Mas de golpe ele começa a pensar. Ele pensa no que? Ele se pergunta como ele pode colocar um pé após o outro [...] Então ele para de correr. Ele não pode mais avançar. Tudo explode e a adega cai sobre ele. Ele a segura com seus ombros, ele é forte, mas depois de um dia ou dois, ele cede e morre. A primeira vez que ele pensa, ele morre".
[Diálogo entre Nana e um desconhecido, em Vivre Sa Vie, de Jean-Luc Godard]